terça-feira, 15 de julho de 2008

Olhar.


Você Virgo,
eu Virgo.
Você desorganizada,
eu indecisa ['indecisão' não me agrada];
Você Leão,
eu Sagitário e Tigre.
Você Branca,
eu Neguinha.
Você 35,
Eu 21.
Você 'Elvis',
Eu 'Tom'.
Você laranja,
não gosto de laranja [só em você].
Você Manhã,
Eu Noite.
Você Saúde,
Eu Papéis.
Você e seu time,
Eu e minha Paixão!
Você escuta, eu falo.
Eu escuto,
Você odeia trânsito.
Dói em você,
Dói aqui.
Você e as piadas [infames],
Eu e a poesia [íntima].
As fotos e nós.

Frases e nós.
Risos e nós.
Calor e nós.
Entre mim e você [nada].
Eu e você.
Nós.

Alguns nós.


[De Mim
Pra Você]

Fala-me.




"Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo Perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora:
"Tresloucado amigo! Que conversas com elas?
Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas"

[Olavo Bilac - Via Láctea]

terça-feira, 8 de julho de 2008

Duas Notas.




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Como a chama de uma vela
Sobre a morte, por acaso haverá dois deuses, um de rosto maternal e outro com rosto de torturador?

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ALGUMAS PESSOAS TÊM a felicidade de morrer com a tranqüilidade de uma vela que se apaga repentinamente soprada por uma lufada de vento.
Ela, a vela, estava segura e feliz, gozando sua chama que fazia o trabalho de luz. E, de repente, não mais que de repente... Não houve agonias nem dores.
A chama morreu tranqüila. Como se ela, a morte, fosse uma mãe que coloca a mão sobre os olhos da criança para que ela se entregue ao sono...
Acho que foi assim que aconteceu com dona Ruth Cardoso.
Muitos anos atrás, um repórter perguntou ao então presidente Fernando Henrique: "Como é que o senhor gostaria de morrer?" Ele respondeu: "Dormindo..." Seu desejo se realizou na dona Ruth: ela morreu como se estivesse dormindo...
Se, por acaso, houver entre meus leitores algum que, para se livrar do medo, deseje fazer amizade com a morte, eu aconselharia a leitura do maravilhoso grande livrinho de Bachelard -"A Chama de uma Vela".
Volto sempre a esse livrinho quando desejo meditar sobre o mistério da minha vida, que também se apagará como a vela. Mas eu tenho medo. Quando eu era jovem, era medo puro. Medo metafísico, do escuro do nada...
Vinicius escreveu o seu poema "O Haver" como um consolo diante da morte. "Resta essa obstinação em não fugir do labirinto / Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente / E essa coragem indizível diante do grande medo / E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva..."
Jovem ainda, minha primeira viagem aos Estados Unidos, eu atravessava a Broadway com um amigo japonês, Kunio Goto. As separações, quaisquer separações, são sempre metáforas da Grande Separação. A saudade dos meus queridos no Brasil era muita e eu falava sobre meu medo de morrer. Ele me ouviu, fez alguns segundos de silêncio e observou: "Já pensou, Rubem, em como seria horrível não morrer?" Essa observação chamou-me à razão, mas não diminuiu o sentimento.
O medo foi transfigurado pela saudade.
Rilke tem um verso que diz: "Quem assim nos fascinou para que tivéssemos um olhar de despedida em tudo o que fazemos?" Imagino que a Cecília se inspirou nas palavras de Rilke ao escrever esse lamento na ode à avó: "Tudo em ti era uma ausência que se demorava; uma despedida pronta a cumprir-se..."
Mas, para outras pessoas, a morte é cruel e sádica. Comporta-se como um torturador que faz o seu trabalho de dor vagarosamente na vítima, que não tem como livrar-se das suas mãos de ferro.
Não sei que critérios usa a morte para determinar o seu estilo de trabalho.
Diante do contraste entre essas duas mortes, as pessoas que não acreditam em Deus sofrem uma dor apenas, a dor da dor. Elas não se perguntam sobre as razões divinas por detrás dessas duas faces da morte que a imaginação cria. Elas simplesmente lamentarão que a vida seja assim irracional e sem cuidados para com os seres humanos, indiferente e ignorante de dores e prazeres. Ninguém é culpado.
Mas o que terão de pensar aqueles que acreditam em Deus, Deus que os teólogos definiram como onipotente e, por isso mesmo, fonte última de tudo o que acontece, inclusive das duas faces da morte? Por acaso haverá dois deuses, um de rosto maternal e outro com rosto de torturador?


[RUBEM ALVES]

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Faz Bem.


Acho a maior graça... "Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere..."
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem; você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde.
E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca.
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada.

[texto de Luís Fernando Veríssimo]

terça-feira, 1 de julho de 2008

1986.


Você se lembra?


De ficar deitado no sofá assistindo o Chaves e Chapolin e quase chorou quando o Chaves ficou sozinho na Vila depois que todos vão para Acapulco?
Odiava ou adorava as provas com cheiro de álcool, recém copiadas no mimiógrafo (usando papel extencil)?
Não ia pra escola no dia do seu aniversário com medo de levar um ovo (ou vários) na cabeça?
Brincava de 'Estátua', 'Queimada', 'Pega-pega', 'Pique-esconde', 'Estrela Nova Cela', 'Forca', 'Cabra-cega', 'Passa Anel', 'Boca de Forno', 'Amarelinha' e 'STOP' (Uéééésstopêêêêê!!!)?
Dançava lambada do Sidney Magal ou do Beto Barbosa? Ou corria pra dançar quando escutava a música "Chorando se foi, quem um dia só me fez choraaaar..."?
Pulava corda com aquela musiquinha: 'Um homem bateu em minha porta e eu abri, senhoras e senhores, ponham a mão no chão'?

Nascimento: 1986!!!!